por Pedro Fernandes
Nada deveria dizer deste livreto publicado agora. Mas parece-me que o momento merece algumas palavras. Todo processo de criação tem uma história. Palavras de pedra e cal nunca foi um projeto que dormia e repousava na existência de sonho. Sua construção veio do acaso.
Desde o primeiro ano de existência do blog que administro, o Letras in.verso e re.verso, que no dia 27 de novembro crio alguma coisa para assinalar passagem de aniversário desse espaço. Em 2009, não me ocorreu nenhuma ideia a não ser redigir um texto sobre os desafios de escrever e manter um espaço dessa natureza na infinita página da web. Essa ausência de novidade durou até semanas depois quando penso em reunir todos os poemas uma vez publicados esporadicamente no Letras, alguns trazidos de outras publicações, para deixá-los aos leitores e transeuntes virtuais.
Um mimo de Narciso. Poderão pensar. Mas não é. Eu próprio quis ver como esses textos saídos aleatoriamente, sem quaisquer linha de interesse que não fosse o de ordenar sentimentos, observar sensações por meio das palavras. Juntos como se apresentam agora, é também minha tímida maneira de ver como eu funcionaria sendo autor de um livro. Mas, voltemos à história da concepção.
A ideia ganha forma e nome. Não seria apenas um feixe de poemas a ser disposto para download, seria um feixe de poemas a ser disposto para download mas com nome próprio e cara de livro. Livreto, portanto, passou a se chamar e ele não é mais que isso: um pequeno espólio público.
A ideia ganha forma e nome. Não seria apenas um feixe de poemas a ser disposto para download, seria um feixe de poemas a ser disposto para download mas com nome próprio e cara de livro. Livreto, portanto, passou a se chamar e ele não é mais que isso: um pequeno espólio público.
O nome próprio, no entanto, tardou a chegar. Existia um pai, nascera a antologia, mas não o nome de batismo. Dá nome às crias é algo complicado. Foi só durante o processo de montagem do material que me veio Palavras de pedra e cal. E Palavras de pedra e cal ficou.
O título, poderão dizer, não tem nada a ver com a obra; e talvez seja verdade. Se o leitor nela buscar, por analogia às pedras, poemas destilados a João Cabral de Melo Neto, não encontrará mesmo nenhum sentido no nome em relação com o conteúdo. Esse título está para mais que isso. A leveza e a dureza da pedra cal estão nele contidas. São assim as palavras virtuais. Na leveza e na dureza, se esfarelam. Mas se se esfarelarem deixam atrás de si um rastro branco, uma vereda, questionável, de vida que existiu – é esse o rastro que está impresso na capa, essa marca quadrangular branca sob um tecido vermelho-sangue. Aliás, essa marca também é singular. Traduzo nela a pedra no formato, a cal na cor e o rastro, a ideia de leveza, de abertura, de fresta, de possibilidades.
Coesão dispersa, porque Palavras de pedra e cal reúnem os poemas publicados nos dois anos de existência do Letras in.verso e re.verso – poemas, como disse, em sua maioria apresentados noutros espaços da rede, de 2007 a 2009. Mas ao passo que reúne, eles ainda continuam soltos pelos demais espaços. Fiz pouca ou nenhuma intervenção da primeira publicação para esta. O que, é claro, não poderá se confirmar em futuras edições, se as tiver.
Palavras de pedra e cal são para serem lidas como uma rude atividade de escrita. Tentativa para o poético. Como nacos de pedra. Uma escrita ainda em tracejado. Como a tinta da cal – pálida, porém, viva. É para ser lido como uma amostra de minha produção poética, que até onde posso me ver, crítico de mim mesmo, é bastante variada; como as pedras – uns mais cortantes que outros, outros tão ruins que nem sei se devo chamá-los de poema.
Palavras de pedra e cal são para serem lidas como uma rude atividade de escrita. Tentativa para o poético. Como nacos de pedra. Uma escrita ainda em tracejado. Como a tinta da cal – pálida, porém, viva. É para ser lido como uma amostra de minha produção poética, que até onde posso me ver, crítico de mim mesmo, é bastante variada; como as pedras – uns mais cortantes que outros, outros tão ruins que nem sei se devo chamá-los de poema.
Mas aí estão, leitor. Nem todos, como a pedra cal, são fabricados. E por insignificante que sejam ainda há de trazer aos pulmões alguma poeira que sufoque.
* Parte do texto constitui apresentação do livreto.